O
leão
Texto para as questões 1 a 5.
A
menina conduz-me diante do leão, esquecido por um circo de passagem. Não está
preso, velho e doente, em gradil de ferro. Fui solto no gramado e a tela fina de
arame é escarmento ao rei dos animais. Não mais que um caco de leão: as pernas
reumáticas, a juba emaranhada e sem brilho. Os olhos globulosos fecham-se
cansados, sobre o focinho contei nove ou dez moscas, que ele não tinha ânimo de
espantar. Das grandes narinas escorriam gotas e pensei, por um momento, que
fossem lágrimas.
Observei em volta: somos todos
adultos, sem contar a menina. Apenas para nós o leão conserva o seu antigo
prestígio - as crianças estão em redor dos macaquinhos. Um dos presentes explica
que o leão tem as pernas entrevadas, a vida inteira na minúscula jaula.
Derreado, não pode sustentar-se em pé. Chega-se um piá e, desafiando com olhar
selvagem o leão, atira-lhe um punhado
de cascas de amendoim. O rei sopra pelas narinas, ainda é um leão: faz estremecer as gramas a seus pés. Um de nós
protesta que deviam servir-lhe a carne em pedacinhos.
-
Ele não tem dente?
-
Tem sim, não vê? Não tem é força para
morder.
Continua
o moleque a jogar amendoim na cara devastada do leão. Ele nos olha e um brilho
de compreensão nos faz baixar a cabeça: é conhecida a amarga
derrota. Está velho, artrítico, não se agüenta das pernas, mas é um leão.
De repente, sacudindo a juba, põe-se a mastigar capim. Ora, leão come verde!
Lança-lhe o guri uma pedra: acertou no olho lacrimoso e doeu. O leão abriu a
bocarra de dentes amarelos, não era um bocejo.
Entre caretas de dor, elevou-se
aos poucos nas pernas tortas. Sem sair do lugar, ficou de pé.
Escancarou penosamente os beiços moles e negros, ouviu-se a rouca buzina do
“Ford antigo.” Por um instante o rugido manteve suspensos os macaquinhos e fez
bater mais depressa o coração da menina. O leão soltou seis ou sete urros.
Exausto, deixou-se cair de lado e fechou os olhos para sempre.
01. I. Embora não
seja um texto predominantemente descritivo, ocorre descrição, visto que o
autor representa a personagem principal através de aspectos que a
individualizam.
II.
Por ressaltar unicamente as condições físicas da personagem, predomina a
descrição objetiva no texto, com linguagem denotativa.
III.
Por ser um texto predominantemente narrativo, as demais formas - descrição e
dissertação -inexistem.
Inferimos
que, de acordo com o texto, pode(m) estar correta(s):
a)
Todas
b) Apenas a
I
c) Apenas a
II
d) Apenas a
III
e) Nenhuma
das afirmações.
RESPOSTA:
B
02.
I. Fato
principal: a morte do leão. Causas principais: o circo, que o abandonou, e a
criança, que o acertou com uma pedra.
II.
A decadência física do leão, assunto predominante do texto, denota animalização
do ser humano.
III.
A velhice do leão, assunto predominante do texto, conota marginalização, maus
tratos e decadência física dos animais.
Inferimos
que, de acordo com o texto, pode(m) estar correta(s):
a)
Todas
b) Apenas a
I
c) Apenas a
II
d) Apenas a
III
e) Nenhuma
das afirmações.
RESPOSTA:
E
03 I.
Conotativamente, o leão chora; denotativamente, o menino agride.
II.
A decadência do leão é tanta, que nada faz lembrar a sua antiga reputação. Nem
mesmo os adultos o reconhecem mais.
III.
Metaforicamente, o leão, que não mais produz e não mais trabalha, pode
representar a marginalização, abandono e agressão a que são submetidos os
idosos.
Inferimos
que, de acordo com o texto, pode(m) estar correta(s):
a)
Todas
b) Apenas a
I
c) Apenas a
II
d) Apenas a
III
e) Nenhuma
das afirmações.
RESPOSTA:
D
04.
I. Evidencia-se
explicitamente no texto uma comparação: a decadência do leão é similar a do ser
humano em geral.
II.
Incapaz de reagir fisicamente às provocações, o leão, sentindo-se inconformado,
morre.
III.
O fato de o leão "não estar preso em gradil de ferro constitui, por parte de
seus antigos donos, uma prova de gratidão.
Inferimos
que, de acordo com o texto, pode(m) estar correta(s):
a)
Todas
b) Apenas a
I
c) Apenas a
II
d) Apenas a
III
e) Nenhuma
das afirmações.
RESPOSTA:
E